Um estudo internacional revelou que o programa Bolsa Família tem impacto significativo na redução de casos e mortes por aids entre mulheres em situação de vulnerabilidade social no Brasil. A pesquisa foi publicada na revista científica Nature Human Behavior e contou com a colaboração do Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal), do Centro de Integração de Dados e Conhecimento para Saúde da Fiocruz Bahia (Cidacs/Fiocruz) e do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/Ufba).
A análise examinou dados de 12,3 milhões de mulheres brasileiras de baixa renda entre 2007 e 2015, concentrando-se em mães e filhas de famílias beneficiadas pelo programa. Os resultados mostraram uma redução de até 55% na mortalidade por aids entre filhas beneficiárias e uma queda de 47% na incidência da doença nesse grupo. Já entre as mães, os números apontaram reduções de 42% nos novos casos e 43% nas mortes.
O efeito protetivo do programa foi ainda mais evidente entre mulheres que enfrentam múltiplas situações de vulnerabilidade, como a combinação entre raça, pobreza extrema e escolaridade. Em casos como o de mães negras ou pardas com ensino médio completo ou mais, vivendo em condições severas de pobreza, a queda na incidência da doença chegou a 56%.
Os pesquisadores atribuem esse resultado às exigências do Bolsa Família, como a necessidade de manter as crianças matriculadas na escola e acompanhar a saúde da família nas unidades básicas. Tais obrigações incentivam o uso dos serviços públicos de saúde e ampliam o acesso à informação e à prevenção. Além disso, o benefício proporciona uma pequena, mas relevante, melhoria na condição econômica das famílias, o que pode reduzir comportamentos de risco associados à vulnerabilidade social.
Outro ponto levantado pelo estudo é que o Bolsa Família pode funcionar como uma medida indireta de proteção para mulheres que, devido à dependência financeira, estariam mais suscetíveis a relações desiguais ou a situações em que a prevenção contra doenças sexualmente transmissíveis fica comprometida.
A equipe responsável pela pesquisa já havia observado efeitos semelhantes na redução da tuberculose, outra enfermidade fortemente relacionada à pobreza. Com base nesses dados, os especialistas recomendam o fortalecimento das políticas de transferência de renda e sugerem a criação de programas específicos para apoiar pessoas com doenças que exigem tratamento contínuo, como aids e tuberculose, incluindo assistência com transporte e suporte à rotina de cuidados.